E quando o futuro que você planejou a dois, de repente, não existe mais?

" O primeiro olhar que disse mais que mil palavras.
O ar era apenas ar.
E as coisas nos seus lugares, obedientes.
Eu era uma forma que passava, distraída de si.
E então. Teus olhos.

Não vi. Fui vista.
Uma fresta se abriu no tempo,
e por ela uma luz que não vinha do sol
— vinha de um reconhecimento brutal.

O silêncio que se seguiu não era ausência.
Era matéria. Densa. Palpável.
Tudo o que se precisava dizer estava ali,
inaugurando o mundo.

Mil palavras teriam sido ruído.
Poeira no espelho recém-limpo.

Naquele instante, eu soube.
Soube que existia porque tu me vias existir.
E o susto. Ah, o susto de ser, enfim, real."

"O silêncio confortável no sofá.
As palavras se foram.
Como convidados que se despedem, exaustos.
E o que ficou? Este ar. Este cômodo.

Não o silêncio que grita. O outro.
O que respira conosco. Lento.
Uma matéria invisível que nos agasalha
e nos perdoa da obrigação de ser interessante.

No sofá, o espaço entre nós
não é distância. É ponte.
Meu corpo sabe onde o teu começa,
sem precisar tocar.
Uma paz animal.

Como chegamos aqui?
A este lugar onde não é preciso mais explicar-se.
Onde ser, apenas ser ao lado,
é a mais perfeita e corajosa
declaração."